Os Desafios das Famílias de Alto Patrimônio

Descubra como os indivíduos de alto patrimônio (HNWIs) podem preservar, expandir e transmitir sua riqueza de forma estratégica. Explore insights sobre gestão patrimonial, sucessão e riscos fiscais para garantir a continuidade do legado familiar.

US$ 31 trilhões de dólares. Essa é a quantia que os indivíduos no topo da pirâmide global de patrimônio deverão transmitir a seus herdeiros até 2033. Os chamados high-net-worth individuals (HNWI), ou indivíduos com alto patrimônio, têm desafios únicos que, no caso dos brasileiros, vão desde administrar recursos em variadas jurisdições ao redor do mundo a lidar com as mudanças e inseguranças constantes que impactam seus ativos e interesses no Brasil.

O crescimento de ativos, a preservação da riqueza através das gerações e a continuidade dos valores familiares exigem gestão sofisticada e um tanto complexa, combinando estratégias financeiras, governança eficaz e planejamento sucessório estruturado. A Legado em Vida pretende trazer aos HNWI e suas famílias estratégias, orientação e o que há de mais moderno em três pilares da gestão e perpetuação de fortunas: preservação, expansão e transmissão de patrimônio.

Vamos entender os desafios das famílias nestes aspectos?

 

Preservação do patrimônio acumulado

Uma pesquisa global de family offices mostra que 58% dos ativos de indivíduos de alto patrimônio estão alocados em classes de ativos tradicionais, como renda fixa, ações e caixa. A quase totalidade destes investimentos está alocada em mercados desenvolvidos, como o americano e o europeu, demonstrando a preocupação com as instabilidades dos países emergentes, mesmo que a certo custo de oportunidade.

Esta realidade contrasta fortemente com o comportamento do investidor brasileiro, que deixa mais de 90% de suas alocações em território nacional, notadamente um ambiente de grande imprevisibilidade e que oferece pouco diferencial de rentabilidade frente ao risco oferecido. Neste campo, alguns exemplos de risco patrimonial gerados pelo Estado brasileiro seguem em voga. Vamos elencar apenas dois. A reforma tributária permite que os impostos de transmissão patrimonial sejam elevados pelos estados; portanto, ativos mantidos fora de estruturas inteligentes de tributação, como fundos de prev, private investment companies e trusts, podem se tornar mais vulneráveis. Em questão de sucessão, foi necessária decisão do STF para que os fundos de previdência fossem tratados conforme a regra – sendo transmitidos administrativamente, sem passar por inventário.

Em se tratando de preservação do patrimônio dentro da família, os HNWIs brasileiros ainda precisarão passar por adaptação e sofisticação de suas estratégias, principalmente no que tange compensação de perdas patrimoniais com seguros de vida e blindagem patrimonial com o uso de estruturas offshore customizadas. Ambas as estratégias são subutilizadas e ainda precisam ganhar espaço no Brasil.

Crescimento do patrimônio

A vasta maioria das famílias de alto patrimônio constrói suas fortunas através de atividades empresariais, e isto acaba se refletindo na forma como investem. De seus ativos financeiros, elas alocam, em média, 50% entre private equity (investimento direto em negócios privados) e equity (participação acionária em empresas listadas). Parece coerente.

No entanto, quando se fala dos investidores brasileiros, há novamente uma discrepância. Primeiro, porque não é novidade que apenas uma pequena parcela da população investe na bolsa de valores. Dentre ela, meros 4% dos indivíduos têm renda acima de R$ 20 mil, conforme dados da B3. Segundo, porque o mercado de private equity no Brasil, além de muito pequeno, encolheu em 2024. Ou seja, os high-net-worth individuals por aqui estão ainda muito distantes das estratégias dos ricos globais.

A boa notícia é que a Geração Z (que agora, mais amadurecida, chega em cargos de gestão e passa a ter mais voz na condução dos negócios e patrimônio familiares) tem mostrado mais apetite por equity, seja privado ou listado em bolsa, do que a geração anterior. Um dos grandes desafios dessa transição será conciliar a tradição e a segurança prezada pela geração que gerou a fortuna e a que pretende mantê-la e expandi-la.

Uma pesquisa do UBS revela que a próxima geração a herdar a fortuna familiar tende a ter maior exposição a risco do que a que gerou a riqueza. Nunca foi tão importante haver mediação entre as duas.

Perpetuação do patrimônio na família

O brasileiro descobriu o mundo. Seja através da dolarização de investimentos, seja pela aquisição de propriedades e negócios em hubs de interesse (como Flórida, nos EUA, e Portugal), as famílias de alto patrimônio têm se sentido cada vez mais confortáveis em expandir seus capitais para fora do País. Isto, naturalmente, gera uma maior complexidade na gestão da transmissão por herança e, por consequência, exige mais atenção e dispêndio por parte da família.

Transferir patrimônio por herança no Brasil é um processo um tanto conturbado, mas já há vasta expertise e entendimento dos mecanismos disponíveis. A transferência no exterior pode agregar um tremendo nível de complexidade ao planejamento patrimonial e demanda cada vez mais estruturas offshore sofisticadas.

Um desafio óbvio das famílias é a dilapidação de patrimônio na transmissão. Em jurisdições como os EUA, ativos de estrangeiros chegam a ser tributados em 40% na transferência causa mortis, a depender do valor dos bens. Além disto, há a necessidade de tramitação de inventário sob as regras locais, o que eleva a complexidade, morosidade e os custos em um momento delicado para a família.

Além dos custos, a indisponibilidade temporária dos ativos no exterior pode estressar as relações familiares e acabar resultando em decisões precipitadas. No entanto, os high-net-worth individuals ao redor do mundo têm menos temor destes empecilhos do que os brasileiros. Isto porque, em países mais maduros em questões sucessórias, famílias de alto patrimônio já têm tradição na adoção de instrumentos de transmissão que evitam inventário, como PICs e trusts. Tais estruturas, que permitem a organização patrimonial ainda em vida e garantem o direcionamento de ativos conforme desejado (com benefícios tributários inexistentes no Brasil), ainda precisam ganhar espaço nas discussões familiares sobre planejamento sucessório brasileiro, especialmente porque, quanto mais cedo forem implementadas, mais eficazes serão.

O papel do family office

A experiência no contato com HNWIs mostra que, apesar de os brasileiros terem acesso às mais sofisticadas soluções de gestão patrimonial do mundo, a qualidade e a solidez das estratégias variam imensamente de família a família.

E é sobre estes temas que as próximas edições de Legado em Vida pretendem tratar. Atualidades, desafios e soluções na administração dos interesses patrimoniais são os conteúdos que você pode esperar por aqui. As famílias que melhor perpetuam seu patrimônio são aquelas que compreendem que planejamento não é um evento, mas um processo contínuo. Como a sua família está se preparando para esse desafio?

NOTÍCIA DA EDIÇÃO

Imposto sobre herança: quem pode pagar até 20% a menos e quem terá mais custos com a reforma tributária?

Segundo o cálculo da Finvity, o “patrimônio de equilíbrio”, aquele em que o valor pago em ITCMD não mudaria, seria de R$ 3,5 milhões. Ou seja, heranças menores do que este valor vão pagar menos impostos com a reforma, enquanto as que superarem este patamar terão uma cobrança de imposto maior.

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