Vivemos mais. Estamos prontos para isso?
A expectativa de vida da população global aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Se por um lado isso é reflexo de avanços na medicina, saneamento e qualidade de vida, por outro impõe uma série de desafios financeiros, patrimoniais e familiares que não podem ser ignorados.
Segundo o relatório “World Population Prospects” da ONU (2022), a expectativa de vida global passou de 66,8 anos em 2000 para 73,4 anos em 2023, e deve atingir 77,2 anos até 2050. No Brasil, o IBGE aponta que chegamos a 75,5 anos em 2023, com tendência de alta. Com isso, o tempo de aposentadoria pode durar tanto quanto o tempo de carreira ativa.
O desafio da longevidade no planejamento financeiro
Aposentadoria insuficiente
Muitos planos de aposentadoria foram pensados para uma vida pós-trabalho de 15 a 20 anos. No entanto, com pessoas vivendo até os 90 anos (ou mais), o risco de esgotar os recursos financeiros antes da vida é real.
Estudo do Society of Actuaries (SOA) aponta que casais saudáveis aos 65 anos têm 89% de chance de que pelo menos um dos dois atinja os 85 anos. Isso exige planejamentos com horizontes de 30 a 35 anos de aposentadoria.
Além disso, o portfólio de investimentos precisa de estratégias que equilibrem renda e crescimento, mantendo o poder de compra frente à inflação e garantindo liquidez nas fases mais avançadas da vida.
Saúde: uma despesa que cresce com o tempo
A longevidade também carrega o aumento de custos médicos e cuidados de longo prazo. No Brasil, dados da ANS mostram que os gastos com saúde privada por idosos acima dos 60 anos são, em média, 2,5x maiores que os de adultos mais jovens.
Doenças crônicas, medicamentos contínuos e, em muitos casos, a necessidade de cuidadores, elevam significativamente o custo de vida na velhice.
Nesse sentido, o planejamento patrimonial deve considerar reservas específicas para saúde, seguro de vida com função de cobertura de doenças graves e planos que contemplem apoio domiciliar.
O impacto nas finanças da família
A longevidade também pode modificar o papel dos membros da família. Avós vivendo mais tempo, podem fazer com que três ou quatro gerações convivam simultaneamente, muitas vezes compartilhando recursos e decisões patrimoniais.
Esse cenário exige:
- Governança familiar estruturada
- Planejamento sucessório antecipado e eficaz
- Educação financeira intergeracional
Além disso, observa-se um movimento de “retorno financeiro dos filhos para os pais”, especialmente em famílias de renda média, onde os custos da longevidade acabam sendo absorvidos por filhos adultos.
Para minimizar conflitos é preciso que família discuta abertamente temas como herança, testamentos, cuidados na velhice e autonomia financeira dos membros mais idosos.
A mudança comportamental da longevidade
A longevidade está redefinindo os ciclos de vida. O conceito clássico de “estudar, trabalhar, se aposentar” já não atende à realidade. Hoje vemos:
- Segunda carreira após os 60 anos
- Maior busca por sentido e qualidade de vida
- Viagens, hobbies e empreendimentos na maturidade
Esse novo comportamento exige liquidez patrimonial, flexibilidade financeira e mentalidade de longo prazo.
Como um planejamento financeiro pode ajudar?
Um bom planejamento patrimonial deve:
- Prolongar a sustentabilidade do patrimônio
- Incluir estratégias previdenciárias privadas
- Reduzir o risco de descontinuidade de renda
- Planejar a sucessão com estruturas inteligentes (holding, testamento, seguro, doação)
- Garantir cobertura de saúde e proteção de capital
A longevidade é uma conquista, mas também um teste à solidez de nossos planos financeiros. Famílias que compreendem esse novo contexto e se organizam desde já, têm a chance de viver essa fase com independência, dignidade e qualidade. Afinal, não basta viver mais — é preciso viver melhor e com tranquilidade financeira.
Referências e leituras recomendadas
- ONU – World Population Prospects 2022
- IBGE – Tábuas Completas de Mortalidade 2023
- Society of Actuaries – Longevity: Risk and Opportunity in Retirement
- Harvard Health – Living longer, but how well?
- Instituto de Longevidade Mongeral Aegon – Estudos sobre longevidade no Brasil