Quando falamos de patrimônio, é comum pensarmos em números — quanto há aplicado, o valor de imóveis, empresas ou participações. Mas à medida que o volume de recursos cresce, a complexidade que os cerca também se multiplica. Não é apenas uma questão de quanto, mas de como esse patrimônio está estruturado e de para onde ele precisa ir.
Neste cenário, cresce também a necessidade de serviços mais completos, personalizados e integrados. Vamos explorar por que isso acontece — e como o atendimento de um multi family office se diferencia para atender essa demanda.
O paralelo com a medicina: clínico geral ou especialista?
Pense no seguinte exemplo: se você sente um desconforto leve, provavelmente marcará uma consulta com um clínico geral. Mas, ao enfrentar uma condição mais complexa, é natural procurar um especialista — talvez até uma equipe multidisciplinar.
Com o patrimônio acontece o mesmo.
Um investidor iniciante ou com menor volume financeiro (por exemplo, até R$ 2 milhões) muitas vezes se beneficia bastante do relacionamento com o gerente do banco, um assessor de investimentos ou mesmo de plataformas de investimentos digitais (robôs advisors). Esses canais são eficientes para organizar aplicações, estruturar uma carteira básica e até receber algum grau de orientação.
Contudo, quando o patrimônio cresce — digamos, a partir de R$ 10 milhões — outras dimensões passam a pesar: estrutura societária, planejamento sucessório, governança familiar, tributação, controle de riscos e, em muitos casos, a proteção internacional dos ativos. É nesse momento que a figura de um multi family office se torna não apenas desejável, mas essencial.
O que muda com o tamanho do patrimônio?
Há uma metáfora interessante no mundo da aviação: um planador é leve e pode ser guiado com pequenas correções. Já uma aeronave de grande porte exige instrumentos, tripulação treinada e controles altamente especializados para garantir estabilidade. Assim também é com o patrimônio.
Veja algumas das transformações mais comuns conforme o patrimônio cresce:
- Mais ativos, em mais lugares: aplicações financeiras no Brasil e no exterior, imóveis, participações em empresas, fundos exclusivos, ativos ilíquidos e alternativos (como arte, precatórios, venture capital).
- Mais pessoas envolvidas: sócios, herdeiros, cônjuges, conselheiros, advogados, contadores — todos com interesses legítimos e, às vezes, divergentes.
- Mais obrigações legais e tributárias: a complexidade do compliance fiscal cresce exponencialmente. Cada ativo pode ter impactos tributários distintos, que afetam não apenas o presente, mas o planejamento futuro da família.
- Mais objetivos e horizontes de tempo distintos: enquanto parte do patrimônio pode ter foco em rentabilidade, outra parte visa preservar capital ou garantir renda a membros da família. Isso exige um olhar holístico e um plano robusto.
Multi Family Office: um centro de comando estratégico
O papel do multi family office é integrar todos esses elementos de forma coordenada. Mais do que um gestor de investimentos, ele atua como uma central de inteligência patrimonial.
As funções típicas incluem:
- Elaboração de política de investimentos personalizada (Investment Policy Statement);
- Consolidação e análise global de portfólio;
- Planejamento sucessório e previdenciário;
- Reorganização societária e fiscal;
- Acompanhamento jurídico e contábil integrado;
- Educação financeira para herdeiros;
- Gestão de riscos (mercado, crédito, operacional, reputacional).
Trata-se de um modelo que busca alinhar a governança da família com os objetivos do capital — criando continuidade, evitando dispersão e fortalecendo o legado.
Segundo a PwC, apenas 30% das famílias empresárias conseguem manter a continuidade do patrimônio na terceira geração. Um dos fatores de sucesso está justamente na estrutura de governança e planejamento proporcionados por family offices.
(Fonte: PwC Family Business Survey, 2023)
Caso ilustrativo: o empresário e a sucessão invisível
Imagine um empresário de 62 anos, com patrimônio de R$ 60 milhões, composto por uma empresa operante, imóveis e uma carteira de investimentos diversificada. Até então, tudo estava em seu nome pessoal. Seus dois filhos — um mais envolvido no negócio, o outro atuando no exterior — nunca haviam participado ativamente da gestão dos recursos.
Sem um plano sucessório estruturado, a família corre o risco de enfrentar um inventário custoso, lento e possivelmente conflituoso. Além disso, a exposição tributária é elevada.
Com a entrada de um multi family office, foi possível:
- Criar uma holding patrimonial com acordos claros entre os herdeiros;
- Estabelecer uma política de distribuição de dividendos que respeita o papel de cada membro da família;
- Reestruturar os investimentos com foco em eficiência tributária e diversificação internacional;
- Iniciar um programa de educação financeira para os filhos e netos.
O resultado: segurança jurídica, clareza no planejamento e coesão familiar.
Conclusão: complexidade exige especialização
Assim como ninguém opera uma empresa com dezenas de colaboradores sem um time qualificado, tampouco se deve gerir um patrimônio relevante sem o suporte adequado.
O crescimento patrimonial é uma conquista, mas também impõe responsabilidades. A transição de uma gestão baseada em “boas práticas financeiras” para uma estrutura profissionalizada de wealth management é um marco importante — e inevitável — na trajetória de famílias que desejam preservar e multiplicar seu legado ao longo das gerações.
A boa notícia? Com as ferramentas certas e uma equipe alinhada aos seus objetivos, o futuro patrimonial pode ser não apenas protegido, mas também ampliado com inteligência.
Quer conversar sobre como seu patrimônio pode se beneficiar de uma abordagem mais estratégica e integrada?
Estamos à disposição para entender seu momento e construir, juntos, um plano sob medida.
Até a próxima edição.